domingo, 2 de janeiro de 2011

Lágrimas Ocultas

                                       
Se me ponho a cismar em outras eras

Em que ri e cantei, em que era querida,


Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...


E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!


E fico, pensativa, olhando o vago...
Tomo a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...


E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!


                                     Florbela Espanca

Nenhum comentário:

Postar um comentário